Procurador suíço queria sua contratação pela empresa que investigava
O ex-procurador suíço Stefan Lenz, que liderava as investigações contra a Petrobrás e a Odebrecht na Suíça, sugeriu ao procurador Orlando Martello, da Lava Jato, que a estatal brasileira o contratasse para aumentar a possibilidade de a empresa recuperar dinheiro desviado. Ou seja: o procurador suíço queria sua contratação pela empresa que investigava.
O lobby pela sua própria contratação foi feito em carta de julho de 2016, de acordo com informações publicadas pela coluna de Jamil Chade. A carta faz parte dos documentos obtidos pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a liberação do Supremo Tribunal Federal (STF). Um trecho da mensagem foi incluído em uma comunicação da defesa do presidente ao STF, nesta semana.
Na época, Lenz indicou a existência de investigações desconhecidas dos brasileiros. Então coordenador da força-tarefa da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol teria arquivado o documento. "Eu nunca fui contratado pela Petrobrás e nunca ajudei", disse Lenz à coluna. "Não houve prática ilegal na troca de provas e informações entre mim e a equipe de Lava Jato", disse o ex-procurador suíço.
A partir de junho de 2019, o site Intercept Brasil passou a divulgar conversas do procurador Deltan Dallagnol com outros promotores e com Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato. Os diálogos apontavam que Moro e os procuradores feriam a equidistância entre quem julga e quem acusa. Conversavam com o juiz sobre a elaboração das denúncias, violando a garantir constitucional de amplo direito à defesa.
De acordo com uma das reportagens, Dallagnol duvidava da existência de provas contra Lula, acusado de ter recebido um apartamento da OAS como propina, mas nunca dormiu nem tinha a chave do imóvel.
O documento do ex-procurador suíço e repassado à defesa de Lula faz parte do primeiro lote de um terabyte de material apreendido pela Polícia Federal no âmbito da Operação Spoofing, responsável por investigar o acesso a celulares dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato. Moro e outros membros do Ministério Público Federal (MPF-PR) tentaram passar a autoridades a mensagem de que a divulgação das conversas foi ilegal, mas não tiveram sucesso.
Advogados de Lula, Cristiano Zanin e Valeska Martins disseram que a informação sobre a recomendação do suíço não representava a totalidade da operação e seria necessário obter todos os sete terabytes de dados. Ao Supremo, a defesa do ex-presidente apontou trechos do que já conseguiram identificar na primeira remessa de informações, como a carta escrita por Lenz.
Diálogos obtidos pela defesa já haviam comprovado que Moro orientou a acusação e que a equipe de Dallagnol manteve conversas clandestinas com autoridades dos Estados Unidos e da Suíça.
Fonte: Brasil 247
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